“Imagine viver 12 anos em uma guerra, com ataques e bombardeios diários”, diz Francisco Otero y Villar, coordenador geral da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) para a Síria.
“E agora vem este terremoto devastador.”
Estima-se que 25 mil pessoas morreram nos terremotos que atingiram o sul da Turquia e o norte da Síria na segunda-feira (6/2) — 3.300 mortos no território sírio.
As Nações Unidas estimam que 10,9 milhões de sírios em várias províncias do noroeste foram afetados.
Antes dos terremotos, a Síria já era o país no mundo com o maior número de deslocados (pessoas obrigadas a saírem de suas casas dentro do próprio país). São 15 milhões de pessoas que precisam de ajuda humanitária em vários anos de guerra civil.
Partes do noroeste do país são controladas por facções rivais.
Após os terremotos, a ajuda de países como Irã, Iraque, Jordânia e Venezuela, entre outros, chegou a áreas controladas pelo governo .
Na sexta-feira, Damasco deu permissão para o envio de ajuda internacional às vítimas do terremoto em áreas controladas por rebeldes, informou a mídia estatal.
Atualmente, existe apenas uma passagem terrestre entre a Turquia para a Síria , pela qual transitaram dois comboios da ONU.
Veja abaixo a entrevista dada à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, por Otero y Villar, do MSF, que está em Amã, na Jordânia.
Após 12 anos em guerra e agora dois terremotos devastadores no norte do país, como os profissionais dos MSF descrevem a situação na Síria?
A situação é dramática, muito complicada. Após 12 anos de guerra, a população dentro da Síria já estava em uma situação muito vulnerável. Além disso, veio a pandemia de covid, que também afetou muito a população e a estrutura de saúde.
Depois do fim da pandemia, tivemos uma epidemia de cólera que ainda vinhámos enfrentando nas últimas semanas. Nossos centros de tratamento de cólera ainda estão abertos. E então um terremoto devastador nos atinge.
O nível de destruição dentro da Síria também é muito grande. Cidades inteiras, bairros inteiros desabaram, centenas de casas desabaram, levando milhares de pessoas às ruas.
Agora, devido a este terrível terremoto, vemos uma nova situação em que as pessoas precisam deixar suas casas, algo que já vinha ocorrendo devido à guerra.
A ajuda humanitária está demorando, ainda há pessoas na rua que não sabem para onde ir. Algumas estão dormindo em seus veículos.
A situação meteorológica é ruim. Antes estava nevando, no dia do terremoto choveu.